Os quatro seres viventes – Ezequiel 1
(Ez 1:1-28)
Embora haja um elemento de mistério associado a essa primeira parábola de Ezequiel, essa visão envolvente revela uma profunda experiência de manifestação. Campbell Morgan faz lembrar que “A palavra-chave da visão é semelhança. Semelhança é aquilo que revela algo. A idéia da raiz do termo hebraico é a de comparação. E exatamente a mesma idéia presente no vocábulo grego que traduzimos por parábola. Não estou afirmando que o significado da raiz seja o mesmo, mas sim que transmite a mesma idéia. A parábola é algo posto ao lado de alguma coisa, com o fito de explicar. É uma figura que tem por objetivo interpretar algo que, sem ela, não poderia ser claramente compreendido. Essa é a tônica da visão. Trata-se de comparação, analogia, parábola, figura. Ezequiel não viu o que algum outro homem já vira, mas contemplou uma visão do Senhor na forma de uma semelhança”.
O que ele viu começa na terra e termina no céu, com um Homem assentado no trono. A linguagem altiva e maravilhosa do profeta revestiu a realidade suprema e central dos quatro seres viventes, que constituem “uma revelação ou manifestação do infinito mistério do Ser que ocupa o trono acima do firmamento — visão que também constitui a razão da esperança de Ezequiel”. Antes de examinarmos a visão em todos os seus pormenores, há três aspectos que merecem destaque nessa visão da Inteligência Suprema:
1. Por ser infinito, Deus teve de revestir a revelação de si mesmo em linguagem ou em formas compreensíveis ao nosso entendimento finito. Por esse motivo reveste realidades eternas e invisíveis com elementos temporais e visíveis. Ezequiel esforçou-se para representar o que inevitavelmente ultrapassa a capacidade humana de expressão; daí as repetições e a falta de clareza nos pormenores. “Toda as descrições de manifestações divinas”, diz Ellicott, “são, como essa, marcadas, com maior ou menor força, pelas mesmas características” (v. Êx 24:9,10; Is 6:1-4; Dn 7:9,10; Ap 1:12-20; 4:2-6).
2. A visão parabólica de Ezequiel inclui todas as formas de manifestação divina conhecidas até a sua época. São elas:
O fogo, que apareceu a Abraão, a Moisés e a Israel no Sinai.
O vento tempestuoso, do meio do qual Deus falou a Jó. Um vento assim também fendeu as montanhas diante de Elias.
O arco-íris, sinal da aliança de Deus com Noé.
A nuvem (de glória) com resplen-dor ao redor, como a que repousava sobre o tabernáculo e sobre o templo.
As teofanias ou formas humanas com as quais o Juiz de toda a terra apareceu a Abraão.
E um símbolo novo:
as rodas que brilhavam como o berilo, “cheias de olhos” e “altas e formidáveis”.
3. Há quatro expressões usadas em referência à revelação de Deus feita a Ezequiel. As três primeiras dizem respeito a elementos externos, que assegurariam ao profeta a verdade da revelação. A quarta expressão relaciona-se ao preparo interior de Ezequiel para receber a revelação.
1. …abriram-se os céus… (Ez 1:1; v. Mt 3:16; At 7:56; 10:11; Ap 19:11). Os céus abertos mostram a aproximação misericordiosa de Deus em relação ao homem. Quando os céus estão fechados, o homem não tem acesso a Deus e não pode contar com a sua provisão.
2. … visões de Deus… (Ez 1:1; v. Gn 10:9; SI 36:6; 80:10; Jn 3:3; At 7:20). O que Ezequiel experimentou não foi nenhum transe ou alucina-ção, mas visões divinas, ou manifestações de Deus, dadas pelo próprio Deus (Ez 8:3; 40:2).
3. … a palavra do Senhor… (Ez 1:3; 24:24). Somente nesses dois casos Ezequiel fez menção do seu próprio nome, e o faz como alvo de uma comunicação concedida por Deus.
… veio expressamente significa “veio sem sombra de dúvida”, com total comprovação de sua verdade. A expressão “a palavra do Senhor”, que ocorre repetidas vezes, tem em si a força da inspiração divina (lTs 4:11). 4. … ali esteve sobre ele a mão do Senhor… (Ez 1:3; 3:22; 37:1; v. lRs 18:46; Dn 8:15; 10:15; Ap 1:17). O Senhor, por seu poderoso toque, fortaleceu Ezequiel para a tarefa sublime e árdua de transmitir de modo preciso a revelação divina recebida.
Examinaremos agora os integrantes da visão que o profeta teve da glória de Deus, que ocupam o restante do capítulo:
1. … um vento tempestuoso que vinha do norte… (Ez l:4;v.Jr 1:14,15; 4:6; 6:1). Ezequiel aprendeu com Jeremias que o vento tempestuoso significa os justos juízos de Deus (Jr 22:19; 25:32). O fato de vir do norte tem duplo significado. O norte era tido como o lugar em que Deus se assentava (Is 14:13,14). E foi do norte, ou seja, da Assíria e da Caldéia, que as forças inimigas invadiram Judá.
2. … uma grande nuvem… Esse quarto versículo poderia ser traduzido da seguinte forma: “… vi um vento tempestuoso vindo do norte que provocava uma grande nuvem”. Ezequiel sabia que a nuvem simbolizava a manifestação de Deus e que, no Sinai, representava q esconderijo da majestade divina (Êx 19:9-16). A nuvem era tudo o que os olhos humanos suportavam ver.
3. … um fogo que emitici labaredas de contínuo… (Ez 1:4; Êx 9:24). Certo texto bíblico lembra que o fogo é expressão da santidade de Deus: “… o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12:29). O fogo toma conta de tudo o que o cerca e, tragando para si, a tudo consome. Horrendas tempestades se fazem acompanhar de nuvens negras às vezes iluminadas por relâmpagos. Essa aparição natural se depreende da frase do profeta, que diz: “um resplendor ao redor dela”.
4. O centro do fogo tinha a aparência do brilho de âmbar (Ez 1:4,27; 8:2). O termo original traduzido por brilho significa também “olho”; o âmbar, encontrado somente em Ezequiel, é em geral interpretado como alguma forma de metal brilhante, que resplandecia quando fundido, se assemelhava ao fogo, ou ainda ao bronze polido (Ez 1:7; Ap 1:15), reluzente e resplandecente pela luz das “labaredas de contínuo”. Temos assim “sobreposto à primeira aparição do fenômeno natural um olho brilhante ou um centro da nuvem, a reluzir mesmo do centro do fogo.
5. … quatro seres viventes… (Ez 1:5-26). Do centro da nuvem de fogo surgiram esses seres simbólicos, não existentes de fato. Na visão inspirada por Deus, Ezequiel viu nessas criaturas uma estranha variedade de detalhes, cada uma, porém, com uma forma em geral humana.
Talvez seja de grande valia se analisarmos cada um dos detalhes:
Eram seres. Animais, como traduz a Versão corrigida, não é a melhor tradução. Um deles tinha “o rosto de um homem”, e o ser humano no máximo seria denominado “animal racional”; o vocábulo “animal”, desacompanhado de qualquer restrição em referência ao homem, seria um tanto impróprio. Mais adiante, Ezequiel identifica esses “seres” como querubins (Ez 10:15,20; 41:18-20), detalhe que examinaremos mais de perto quando chegarmos ao capítulo em questão. Em termos gerais, os querubins representam “a imediata presença do Deus Santo”. Por terem “a semelhança de homem”, então, esses seres viven-tes apresentavam a aparência do corpo humano em todos os aspectos assim especificados. Tinham “mãos” e “rostos”, e os “pés” eram direitos, ou na posição vertical. O autor anônimo de Miracles and parables of the Old Testament [Milagres e parábolas do Antigo Testamento] escreveu há mais de setenta anos: “Não necessariamente se deve considerar a forma dos querubins um símbolo de alguma ordem exclusiva de seres criados; antes, parecem ter por objetivo abranger e unir todas as ordens sagradas de inteligência, sejam anjos, sejam homens, e expressar propriedades morais e intelectuais, qualquer que seja a ordem dos seres que as possuam”. Nesse sentido, o reiterado vocábulo “semelhança” tem sua importância. O que saiu da nuvem de fogo pareciam, mas não eram de fato as criaturas retratadas.
Eram seres “viventes”. Vez por outra essa importante característica é citada (Ez 1:5,13,14,15,19,21; Ap 4:6 etc). Não eram meras fantasias, mas eram vivos e ativos, com a vida intimamente ligada à fonte de toda a vida, “o Deus vivo”, cujo trono estava acima da cabeça desses “seres viventes” (Ez 1:26).
Cada um tinha quatro rostos. Cada um dos quatro seres tinha quatro rostos (Ez 1:6). Os querubins do tabernáculo e do templo segundo consta tinham somente um rosto; os mencionados por Ezequiel em outro texto aparecem com dois rostos (41:18,19); os quatro seres viventes apresentados por João eram diferentes uns dos outros (Ap 4:7). Mas aqui (Ez 1:6,10) os quatro rostos se associam em cada um dos querubins. Sobre esses símbolos fundamentais da terra, Campbell Morgan comenta: “Cada ser se voltava em quatro direções, e cada rosto transmitia, com cada símbolo —homem, leão, boi e águia—, uma idéia diferente. Além disso, os quatro foram de tal forma postos nos quatro cantos de um quadrado, que o rosto de homem olhava em todas direções, assim como o de leão, o de boi e o de águia. Dessa forma, na unidade dos quatro as mesmas verdades eram transmitidas, como também na unidade de cada um. Cada um tinha quatro rostos, e o quadrado total tinha a mesma revelação de quatro aspectos”.
Quatro é o número da terra; assim, temos os quatro pontos cardeais: Aborte, Sul, Leste e Oeste —tendo o primeiro deles a mesma inicial da palavra novas ou do vocábulo notícias. O noticiário proporciona informações desses quatro cantos do mundo. Além disso, os quatro rostos representam uma múltipla variedade e uma extraordinária distribuição de dons e de particularidades associadas para um propósito: cada rosto simboliza as diferentes qualidades da mente e do caráter.
Rosto de homem. O homem é o mais admirável dos quatro seres mencionados, sendo o ideal que serve de modelo aos outros três (Ez 1:10; 10:14). O rosto é o sinal de inteligência e de sabedoria. O homem é o cabeça de todos os animais criados. “O homem era o símbolo da manifestação [...] Manifestação passa a idéia de revelação do melhor que a vida tem a oferecer, e o homem era o ho-mem-símbolo.”
Rosto de leão. Como o leão é o rei dos animais selvagens, temos aqui o símbolo da supremacia. “Supremacia passa a idéia de reinado, e o leão era o símbolo do rei.” O leão é também o símbolo oficial de poder e de coragem.
Rosto de boi. O boi é reconhecido como o cabeça dos animais domésticos e simboliza serviço, esforço perseverante, força e paciência. “Serviço passava a idéia de sacrifício, e o boi era símbolo do servo.”
Rosto de águia. A águia é indiscutivelmente a soberana entre os pássaros, sendo “o emblema do que é ardente, penetrante, elevado, moralmente sublime e devotado”. Ou ainda: “a águia é símbolo do mistério, que transmite a idéia de algo insondável, sendo também símbolo da divindade”.
Desde os pais da igreja, os comentaristas da Bíblia vêem nesses quatro rostos uma inspirada representação de Cristo nos quatro evangelhos. Não é ele o único que reúne todas as excelências?
Em Mateus, vemos sua supremacia como rei;
em Marcos, vemos seu serviço sacrificial como servo;
em Lucas, vemos sua perfeita manifestação como homem;
em João, vemos seu infinito e insondável ministério como Deus.
Outros detalhes de importância parabólica são:
Cada um tinha quatro asas. Movimento e rapidez na execução dos propósitos de Deus são as idéias presentes na simbologia das asas, duas das quais eram unidas uma à outra (Ez 1:6,11), fazendo supor que todos se movimentavam de forma harmônica e num só impulso. As duas outras asas cobriam o corpo, o que denota reverência (Is 6:2).
Cada um tinha pernas direitas. “As suas pernas eram direitas”, i.e., sem nenhuma dobra, como a que temos nos joelhos. Por serem retas, eram igualmente adequadas não apenas para a estabilidade, mas também para mover-se em qualquer direção. O fato de serem “as plantas dos seus pés como a planta do pé de um bezerro” implica que a parte do pé que se apoiava no chão “não era como o pé do ser humano, formado para mover-se apenas para frente, mas sólido e redondo como a planta do pé de um bezerro”. “… luziam como o brilho do bronze polido” é um detalhe que contribui para o fulgor e para a magnificência geral da visão.
Cada um tinha mãos de homem debaixo das asas. Essas mãos, à semelhança de mãos humanas e a representar ação, ocultavam-se sob as asas. Asas e mãos! Que combinação interessante! As asas transmitem a idéia de adoração; as mãos, de serviço. As asas, contudo, cobriam as mãos, mostrando que, na vida do crente, o espiritual e o secular andam juntos, o primeiro sempre prevalecendo sobre o segundo. A rotina diária e as tarefas comuns devem glorificar a Deus, da mesma forma que o aposento de oração.
Cada um andava para diante. Não se viravam quando iam. Com “quatro rostos”, os seres olhavam em todas as direções; e os pés redondos igualmente lhes possibilitavam mover-se em qualquer sentido. Qualquer que fosse a rumo que tomassem, seguiam sempre “para diante”. Nunca desviavam do curso divinamente prescrito. Que lição para nosso indócil coração avaliar!
Cada um tinha aparência de brasas de fogo ardentes e tochas. O profeta não incorreu em tautologia ao usar “semelhança” (que denota a forma geral) e “parecer” (que denota o aspecto particular). Brasas de fogo ardentes (tochas ou relâmpagos) podem representar a intensa e abrasadora pureza de Deus consumindo todas as coisas estranhas à sua santa vontade. Os relâmpagos que saíam do fogo, subindo e descendo, e os seres viventes, saindo e voltando, denotando esplendor e velocidade, expressam muitas verdades preciosas. Há o maravilhoso vigor do Espírito de Deus em todos os seus movimentos, sem jamais descansar, sem nunca se cansar. O fogo ardente simboliza a santidade e a glória de Deus. Os relâmpagos que saíam do fogo transmitem a solene idéia de que, assim como a retidão de Deus faria o raio de sua ira cair sobre Jerusalém, também sobrevirá por fim à terra culpada.
Cada um tinha quatro rodas. Rodas de imensas proporções são agora acrescidas ao querubim, mostrando que uma energia gigantesca e terrível haveria de caracterizar as manifestações do Deus de Israel. Um irresistível poder apareceria agora nos tratos de Deus, que perfazem uma ação perfeitamente harmoniosa, controlada pela vontade suprema. Várias verdades podem ser extraídas de mais esse curioso simbo-lismo.
Em primeiro lugar, essas rodas de grande altura estavam na terra (Ez 1:15), depois conectadas ao trono celestial (Ez 1:26). As rodas também tinham o brilho do berilo, o que se harmoniza, na visão, com a freqüente menção de fogo e de luz brilhante. Em segundo lugar, uma roda estava dentro da outra. Isso refere-se a uma situação em que há um elemento misterioso, e envolvente. Essa roda apresentada por Ezequiel não seria possível mecanicamente, e é usada apenas em sentido parabólico. Uma roda estava num ângulo exato com a outra, e seus movimentos eram inexplicáveis —”iam em qualquer das quatro direções”.
As cambotas —aros ou circunferências das rodas— eram “cheias de olhos” (v. Ap 4:8: “por dentro, estavam cheios de olhos”). Essa multiplicidade de olhos (Ez 1:18; 10:12) simboliza o perfeito conhecimento de Deus acerca de todas as suas obras e a absoluta sabedoria de todos os seus feitos (2Cr 16:9). Jamieson fez este interessante comentário a respeito desse detalhe: “Vemos simbolizada aqui a abundância de vida inteligente, sendo o olho a janela pela qual ‘o espírito da criatura vivente’nas rodas (1:20) percorre toda a terra (Zc 4:10). Como as rodas significam a providência de Deus, assim os olhos querem dizer que ele vê todas as circunstâncias, e nada faz por impulso cego”.
Resumindo a mensagem do mistério e do movimento das rodas, que são redondas para girar, sabemos que Ezequiel viu o Senhor em meio às estranhar rodas giratórias do seu procedimento e em meio à irresistível energia de que falou na qualidade de Espírito Santo. Como foram construídas para se mover, o movimento é o estado normal das rodas; o repouso é exceção. Quando pensamos nas leis divinas da providência e da natureza, percebemos que a sua característica normal é o movimento constante. Na história das nações e das pessoas, um acontecimento sempre sucede a outro. “Na ordem e nos movimentos gerais do universo, há constante rotação, incessante movimento para diante, perfeita regularidade e imperturbável harmonia entre tudo o que possa parecer obscuro e complicado. Na qualidade de Intérprete de si mesmo, Deus por fim esclarece todas as coisas”. A impressionante lição no mecanismo das rodas, então, é a representação do sistema de influências físicas e materiais e a representação de todo o andamento do mundo físico unido às influências intelectuais e morais, simbolizadas pelos seres viventes —tudo sob o controle do trono celestial, existindo para a glória do seu Ocupante divino.
Por último, temos três aspectos específicos da glória divina, observada por Ezequiel em sua visão, a saber: a voz, o trono e o arco-íris.
A voz. A mesma palavra hebraica nesse versículo poder ser traduzida por “ruído” e por “voz”. Por isso, “o ruído das suas asas”, “o ruído de muitas águas”, “a voz de um estrondo” e “uma voz por cima do firmamento” transmitem algo da impressionante “voz do Onipotente”. Quando a sua voz era ouvida, os seres viventes, acabrunhados por seus tons majestosos, silenciaram em reverência. “O forte ruído dos seus movimentos silenciou-se, e baixavam as asas sem mexê-las, todos em atitude de reverente atenção”.
O trono. A divindade agora aparece na semelhança de um homem entronizado. As resplendentes referências ao trono, com a sua “aparência de [...] safira”, “como o brilho de âmbar” e “como o aspecto do fogo”, contribuem para exaltar a glória, a santidade, o poder e a soberania daquele que se assenta no trono. “Se nas profecias de Isaías vimos o trono com seus princípios fundamentais”, diz Campbell Morgan, “e nas de Jeremias descobrimos as atividades daquele que se assenta no trono, nas de Ezequiel temos o desvendar da natureza de Deus”.
Não temos aqui uma insinuação ou um prenuncio da encarnação do Filho de Deus, que se tornou Filho do Homem para fazer dos filhos dos homens filhos de Deus? Cristo não é apenas o representante da “plenitude da divindade” (Cl 2:9); é igualmente o representante encarnado da humanidade. Não são boas novas o fato de o trono ser ocupado por alguém que se apresenta como “homem” e como “Salvador” e, ao retornar à terra, atuará como Juiz (Ap 19:11-16)? O profundo segredo da esperança de Ezequiel era ter conhecido o trono e os princípios governamentais aplicados por aquele que, como Deus-homem, atua tanto a favor Deus como do homem.
O arco-íris. “O arco [...] na [...] chuva” lembra o arco-íris, que Deus apresentou como símbolo da firme aliança de sua misericórdia para com seus filhos, de quem não se esqueceria na condenação dos perversos (Ap 4:3; 10:1). Além dos atributos da sua terrível majestade, descrita por Ezequiel, havia também a sua misericórdia e benignidade. O esplendor, assim como o terror, circundam o trono. O “arco que aparece na nuvem no dia de chuva” não é mera alusão ao fenômeno natural do arco-íris, mas relaciona a visão de Ezequiel à promessa misericordiosa de Gênesis 9:13.
Coberto pela glória do Senhor, que mais o profeta poderia fazer senão prostrar-se sobre o rosto e calar enquanto a Voz falava? A manifestação direta e gloriosa de Deus em geral deixa o homem subjugado e sem palavras (Ez 3:23-25; Is 6:5; Dn 8:17; Lc 5:8; 8:37; At 9:4; Ap 1:17). Vemos aí também a nossa atitude quando assumimos qualquer trabalho para Deus. Na primeira visão de Ezequiel, o Senhor reuniu nessa revelação inicial de si próprio a essência de tudo o que haveria de ocupar sua missão profética, como finalmente se deu na gloriosa visão que João teve no apocalipse (ou na revelação) de Jesus Cristo.
Quanto ao significado geral das visões parabólicas de Ezequiel, Ellicott chama a atenção para o fato de que foram vistas quatro vezes pelo profeta em várias associações com a sua vida ministerial:
1. Quando chamado para exercer o ofício profético (1:1-28).
2. Quando enviado a decretar juízos sobre um povo pecador e predizer a destruição de Jerusalém e do templo (3:23 etc).
3. Quando, um ano e meio depois, tem a mesma visão, quando é levado a compreender as maldades e as aborninações praticadas no templo e também a sua futura restauração (11:23).
4. Quando vê a presença do Senhor voltar e encher o templo com a sua glória (43:3-5).
Fonte / Herbert Lockier.
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