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O PRIMEIRO PASSO (Visão Terapêutica)

O Primeiro Passo diz: “Admitimos que éramos impotentes perante o vício – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas”.

Sem dúvida, é esse o mais importante dos Doze Passos, o inicial para qualquer tentativa de progressão aos subsequentes, e, evidentemente, o  mais    complexo e difícil de todos.
Pode ser até que seja simples a um alcoólatra, diante de tantos e inegáveis fatos que evidenciem e comprove sua ingestão descontrolada de bebida alcoólica, vivenciar um processo de exaustão e mesmo de admissão momentânea de que deve parar e reavaliar seu padrão de consumo. Mas é claro, também, que isso não é nem nunca será suficiente para alguém se dispor a reavaliar todo um padrão de vida, de comportamento, toda uma escala de valores e conceitos. É preciso uma admissão muito mais ampla que envolva não somente o uso do álcool, mas que abranja todos os aspectos de sua vida, uma verdadeira e plena aceitação de fracasso. Humilhação? Talvez.
Esta torna-se ainda mais complexa quando verificamos que a motivação para os passos subsequentes originar-se-á apenas dessa consciência e que, portanto, dependerá da consistência e durabilidade de tal aceitação. Vivenciar um mero esgotamento passageiro de recursos é muito diferente de assumir a condição de impotência e real desistência – rendição.

Beber pode não ser mais o objetivo imediato de um alcoolista em processo de dor aguda, mas abrir mão de elementos arraigados por anos e anos de comportamento patológico e elaboração distorcida da realidade significa, sempre, dor maior e mais profunda.
Para o profissional que se disponha a ajudar o alcoolista neste momento, deve ficar claro que este poderá e deverá utilizar mecanismos fortíssimos de defesa para proteger-se dessa perda iminente, ou seja, da perda de um paliativo que foi, se não atualmente, bastante eficaz para alívio de sentimentos desconfortáveis. É constante, portanto, o risco de sabotagem ao tratamento ou a qualquer forma de ajuda, desde que representem ameaça ao sistema estabelecido de imediatismo sintomático.

Portanto, o único auxílio realmente efetivo nessa etapa é proporcionar uma real, objetiva e concreta visão de mundo ao alcoolista, para que este possa elaborar, solidamente, uma consciência estritamente individual da necessidade em progredir no processo de tratamento. Ajudá-lo a enxergar perdas, danos e consequências do uso descontrolado do álcool, tentando sempre ampliar o ângulo de visão dessa realidade aos diferentes aspectos de sua vida, é a melhor maneira de fortalecer sua vontade e desenvolver elementos intrínsecos de mobilização para um trabalho a longo prazo.

Alcoólicos Anônimos o faz através das experiências pessoais e é inegável que o exemplo é o melhor conselho e a forma mais objetiva de confrontar. Mas é também inegável que a teoria e a realidade científicas auxiliam bastante nesse trabalho de conscientização.
Pode ser necessário, para isso, o auxílio de outras pessoas que hajam participado diretamente do processo progressivo do alcoolismo e é muito útil a inclusão de familiares, amigos, colegas de trabalho e/ou outros significantes em atividades confrontativas e intervencionistas.

Evidentemente, o fundamento básico do Primeiro Passo é a consciência plena da necessidade de mudar e é muito importante que fique claro que essa mudança não consiste, apenas, em interromper o uso do álcool. É dever do profissional evidenciar, na vida do alcoolista, sequelas multiespectrais da doença em todos os seus aspectos, sejam eles físicos, psíquicos, sociais, emocionais, comportamentais ou morais. Uma profunda reavaliação do ser humano é a única forma eficaz conhecida para reverter uma relação tão íntima quanto a relação de dependência. É por esse motivo que o processo de conscientização deve ser ininterrupto, renovado a cada momento do tratamento, pois dele depende a mobilização do paciente para este.

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