O PRINCÍPE de Maquiavel
Filósofo e político italiano (1469 – 1527), Nicolau Maquiavel foi o fundador do pensamento político moderno. Nasceu em Florença e trabalhava como funcionário público da república florentina a partir de 1498. Como chanceler e secretário de Relações Exteriores, redigiu documento oficiais. Em 1502, passa cinco meses como embaixador. Com o fim da república (1512), Maquiavel perde os cargos e é exilado. Escreve então, sua obra-prima O Príncipe (1513 – 1516), um manual sobre a arte de governar, revelando preocupação com o momento histórico da Itália, fragilizada pela falta de unidade nacional, alvo de invasões e intrigas diplomática. Rompe com a Ética cristã ao defender a adoção de uma moral própria no tratamento dos negócios de Estado. Considera legítimo o uso da violência contra os opositores dos interesses estatais.
O PRINCÍPE
O Príncipe é um livro que prepara as pessoas para entrarem na política, é como um “manual de sobrevivência” para esse meio. Nunca ninguém escreveu um livro tão completo, atual e revolucionário, como esse, pois ele “ensina” política através dos sentimento humanos, quais podem derrubá-lo ou elevá-lo dentro de um mundo perigoso, mas fascinante em que as pessoas, ao conhecê-lo, ou amam ou odeiam.
É indispensável para quem pretende envolver-se com a política ou em outro cargo e liderança, pois ele descreve minuciosamente como um homem deve agir para tornar-se vencedor na política ou como um líder, desde de como chegar ao poder até como se manter nele, pois além de ser um “manual político”, inaugura um novo modo de pensar que leva em conta a condição humana, seus sentimentos e temores. Vejamos.
Para Maquiavel são dois os tipos de Estado: república e principado, este segundo é hereditário, mas os súditos continuam os mesmos, tendo estes que obedecer ao comando de um novo soberano. Há certa dificuldade de substituir um príncipe por outro na escala de hereditariedade, mas para ser aceito pelo povo, basta, além de mostrar autoridade, não mudar muito à vida do povo, seus costumes e não alterar em completo e subitamente as leis que antes operavam. Na república troca-se de governantes a todo tempo, mas isso não é bom, pois se um não serviu o outro também não servirá, o ideal é que haja uma monarquia, em que apenas um governe e até a sua morte e seu governo ser passado para os seus, pois de outra forma os súditos estarão satisfeitos e o Estado vira desordem. Nunca se deve adiar uma guerra, pois ela vai acontecer de qualquer jeito, adia-la só fortaleceria o inimigo, deve se armar estratégias antes de atacá-lo, para não ser pego de surpresa. Numa guerra nunca deve-se apoiar aquele que um dia possa vir a ser mais forte, pois estes poderão substituí-lo.
O príncipe tem duas formas de governar: com auxílio de assistentes ou dominando só, o primeiro caso seus assistentes podem almejar o poder e querer mandar tanto quanto o príncipe, o mais seguro é a segunda opção, pois há apenas uma autoridade e ninguém para tentar derrubá-lo do poder, e assim governar o povo com mais firmeza. Maquiavel mostra como dominar uma cidade conquistada que havia total liberdade em impor o principado ao povo, são esses os dois modos: destruí-la ou morar nela, mas esta última tem um risco de não funcionar, destruí-la e a partir de seus destroços impor o principado.
Príncipes que não nascem príncipes mas tornam-se por sua coragem e luta, tem maior dificuldade de conquistar domínios, mas conseguem mantê-lo com maior facilidade, pois usaram suas próprias armas e não tiveram ajuda de ninguém para consegui-lo. Já quem chega ao poder com a ajuda de outrem ou por sorte, conquista com facilidade um domínio, mas quase nunca consegue mantê-lo, “quase” porque pode acontecer de, ao chegar no poder, o príncipe se imponha e governe apenas com suas armas. Para manter uma conquista conseguida sobre inimigos, deve-se fazer novos amigos, não precisar de ajuda alheia e fazer-se temido e adorado por todos, tanto o povo quanto os barões.
Existem mais dois meios de tornar-se príncipe que não seja por hereditariedade, por ato criminoso ou com ajuda de outro, estima-se que o primeiro caso venha a funcionar melhor que o segundo, pois não estará devendo favor a ninguém. Uma conquista torna-se mais forte quando se tem o apoio do povo, pois estes só querem proteção e não ser oprimidos, mas se ele decidir passar do estado soberano para o absoluto terá problemas, pois o povo era acostumado com a liberdade e vão querê-la de volta, o príncipe tem que impor-se e fazer com que o povo dependa sempre do estado para conter possíveis revoluções. Existem dois tipos de príncipe, aquele que em tempo de crise consegue manter-se só no poder e o que precisa de ajuda para não sucumbir. Se o príncipe não tiver nem armas, nem posses para reerguer-se é mais viável contar com a ajuda do povo que não vai cobiçar poder apenas liberdade.
O Estado que conseguiu chegar mais próximo a perfeição foi o eclesiástico, ninguém ousava enfrentá-lo por ter a proteção divina. O príncipe que tivesse a proteção desse Estado não precisa se esforçar para manter o poder, não importando sua origem nem como governava.
Um príncipe tem que usar apenas da própria força para defender-se, pois se usar da força de outro, estará dependendo da sorte e pode ser traído, o certo é defender-se com forças nacionais ou mistas, pois aí haverão fidelidade e respeito ao príncipe. Um príncipe tem sempre que estar pensando na guerra e formulando estratégias, mesmo em época de paz, pois assim nunca será pego de surpresa, tem que exercitar a mente e o corpo.
A natureza humana permite que sejamos perfeitos e nem aos príncipes. Eles não podem ser bons, pois há pessoas más que podem derrubá-lo, tem que ser mal quase todo tempo, e bom quando certas ocasiões exigem. Entre quem nasce príncipe e quem está se tornando, a liberdade ajuda o segundo e prejudica o primeiro, por isso o primeiro tende a usar a violência para conter a liberdade. É melhor ser chamado de miserável e manter seu poder que de voraz que trás ódio e desgraça. Para manter o povo unido e fiel é preciso usar suas virtudes e crueldades. É melhor ser temido, pois assim há respeito e sendo amado pode-se querer abusar da bondade do príncipe criando intimidade, mas deve se evitar o ódio do povo mantendo-o dependente do governo.
O príncipe, para vencer o combate, tem que dominar duas formas de luta: através da lei (próprio do homem) e a força (própria do animal). Mesmo que não seja, um príncipe tem que aparenta ser misericordioso, leal, e religioso para conquistar o povo, mas se preciso deve converter-se ao contrário disso para defender seu principado. A única coisa que pode derrubar um príncipe é o ódio e o desprezo de seu povo, então se deve sempre tentar manter a paz no seu principado, não mexendo nem com o patrimônio nem com a mulher dos súditos. Um sábio príncipe sabe poupar aborrecimento aos grandes e poupar o povo. As fortalezas podem ser tanto benéficas quanto prejudiciais, se o príncipe teme mais os súditos que os estrangeiros deve construí-la caso contrário não, de nada adiantará a fortaleza se o príncipe não souber controlar o ódio do povo.
Um príncipe tem que fazer de suas ações grandeza e fama e nunca pode ficar em cima do muro, tem que ser seguro em suas decisões mesmo que elas não sejam as mais sensatas e nunca pode ficar neutro em uma batalha, pois ambos os lados ao fim da guerra não confiará nele. O que julga um príncipe quanto a sua competência é a escolha de um ministro, pois esse poderá ser sua vitória ou desgraça. Um bom ministro é aquele que se preocupa mais com o Estado do que consigo mesmo, e é esse que o príncipe tem que ter ao seu lado para não ter perigo de ser traído. Para evitar um bajulador que nunca fala a verdade mas só o que convém é preciso dá confiança e liberdade aos seus conselheiros para que possa falar a verdade, quando solicitados sem serem castigados.
A duas coisas que fazem com que um príncipe perca seu trono: a não preparação em tempo de paz e confiar em forças alheias quando a batalha tiver perdida para reerguer-se. Um príncipe deve saber que apenas o seu valor e forças são confiáveis. O príncipe não pode valer-se apenas da sorte, deve ser apenas parte da metade dos seus atos, para que a outra metade possa controlá-la, pois se depender apenas da sorte quando ela acabar seu principado sucumbirá. Um soberano deve estar sempre preparado para nunca ser pego de surpresa. Para libertar um país da barbárie é preciso lutar junto ao povo, que clama por um soberano que expulse os bárbaros de suas terras e governe-as. Com a ajuda do povo já confirmada, é preciso aproveitar cada oportunidade de atacar o inimigo com planos já fixados e exércitos já armados para, assim, derrotá-los.
Enfim, para Maquiavel a política deve se preocupar com as coisas como são, em toda sua crueza, e não como as coisas deveriam ser, com todo o moralismo que lhe é subjacente.
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